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Como os estabelecimentos do setor de alimentação fora do lar enxergam e aplicam práticas de economia circular? Uma pesquisa da Abrasel, em parceria com o Sebrae, ajuda a entender o estágio em que estamos no Brasil

A principal conclusão da pesquisa é que as práticas de economia circular são abraçadas pelas empresas em função de fatores internos. Foto: Glênio Campregher

O termo economia circular está se tornando mais popular a cada dia. Em resumo, esse conceito propõe uma forma diferente de lidar com recursos, visando usá-los de maneira inteligente e sustentável, evitando desperdícios e incentivando a reutilização, a reciclagem e uma nova forma de pensar sobre o uso de materiais, serviços e produtos.

No contexto de bares e restaurantes, isso significa adotar práticas como evitar o desperdício de alimentos, água e energia, destinar resíduos sólidos e orgânicos para a reciclagem, aproveitar ingredientes integralmente e buscar fornecedores locais e conscientes do ponto de vista ambiental.

Também envolve o reuso de embalagens, a melhoria dos processos de compra, estocagem e preparação de alimentos e a criação de menus que considerem a disponibilidade sazonal de ingredientes. Essas medidas não apenas tornam os negócios mais sustentáveis, mas também mais eficientes, reduzindo perdas e diminuindo o impacto no meio ambiente.

Bares e restaurantes são muito importantes sob diversos aspectos econômicos, mas também como indutores de comportamento. Além de formar um mercado enorme, produzir resíduos e usar recursos naturais, é fundamental entender que esses negócios têm o poder de influenciar as pessoas a fazer escolhas mais sustentáveis, como consumir em estabelecimentos da vizinhança, priorizar menu do dia ou sazonal, não desperdiçar alimentos no prato.

Eles podem fazer com que as pessoas fiquem curiosas, desejem experimentar algo diferente e até mesmo incorporem novos hábitos.

Para entender como o conceito de economia circular é visto por gestores de estabelecimentos de alimentação fora do lar, a Abrasel, em parceria com o Sebrae, realizou em 2023 uma extensa pesquisa com esse público.

O estudo, inédito no país, contou com a participação de 1.002 empresários em todas as regiões do Brasil. No geral, a pesquisa mostra que há interesse em aplicar práticas de economia circular por parte dos estabelecimentos, embora nem todos os atores da cadeia se mostrem envolvidos da mesma maneira.

A principal conclusão da pesquisa é que as práticas de economia circular são abraçadas pelas empresas em função de fatores internos, como o interesse dos gestores em aumentar a eficiência ou promover a redução de custos, além de conhecimento sobre o tema.

Quase metade dos respondentes apontou a decisão do gestor como principal motivador da adoção de práticas como a eficiência energética ou o reúso de água, em contraste com os 11% que dizem fazer isso por exigência de fornecedores, por exemplo. Chama a atenção a pouca influência ainda exercida pelos clientes dos estabelecimentos: apenas 20% apontaram ter tomado alguma medida em função da preferência dos consumidores.

Para reforçar essa noção, foi notado que os líderes de pequenos negócios afirmaram adotar práticas de economia circular com maior regularidade do que os gestores de empresas de maior porte em todas as áreas examinadas. Isso sugere que essas práticas são vantajosas para esses empreendimentos, provavelmente devido à diminuição de despesas resultante da redução de perdas.

Ranking de resíduos gerados nos estabelecimentos segundo a percepção dos respondentes:

1° Orgânico
2° Plástico
3° Papel
4° Vidro
5° Alumínio
6° Têxteis
7° Construção
8° Eletrônicos
9° Químico

Temas mais relevantes

A pesquisa dividiu os temas mais importantes ligados à economia circular em cinco áreas: energia, gestão, água, consumo de recursos, e recuperação de resíduos. Energia e água reúnem as práticas em relação ao uso sustentável da água e utilização de diferentes fontes energéticas, como elétrica, biogás, solar e outros combustíveis, por exemplo.

Na gestão entram os motivadores internos e externos, as parcerias para desenvolvimento de produtos ou ofertas de serviços mais circulares, uso de tecnologias e inovação, treinamento de colaboradores. O consumo de recursos trata das relações entre os estabelecimentos e seus fornecedores.

Por fim, recuperação de resíduos abrange o combate ao desperdício e a logística reversa com fins de reciclagem/reutilização destes resíduos. A área onde há mais aderência a práticas sustentáveis é a de energia.

Como bares e restaurantes são grandes consumidores de energia elétrica (para iluminação, refrigeração e uso na cozinha, entre outros), esse é um ponto em que a economia e a eficiência trazem grande impacto nos custos. Ao mesmo tempo, é crescente a oferta de energia elétrica limpa.

Principalmente a solar, com custo menor do que a da rede convencional. Na gestão do estabelecimento e no relacionamento com fornecedores o conhecimento de iniciativas de economia circular é mais tímido.

Embora várias indústrias grandes tenham iniciativas para os bares e restaurantes, em sua maioria elas ainda não têm escala ou são localizadas, com raras exceções. E o próprio comportamento de compra dos gestores de alimentação fora do lar, principalmente os de pequenos negócios, está muito pulverizado, com o crescimento inclusive do e-commerce, o que dificulta o relacionamento e conhecimento dessas iniciativas.

Como curiosidade, foi observado que os respondentes da região Norte do Brasil se preocupam mais com a qualidade dos fornecedores e suas práticas de economia circular do que os gestores nas outras regiões, talvez pela proximidade desses produtores do ecossistema da Floresta Amazônica.

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