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Atualmente, mais de 70 mil microempreendedores do país são de outras nacionalidades e, desse total, 2.968 empreendem no setor de bares e restaurantes

Por Duda Gomes

Segundo dados recentes do Sebrae, o Brasil abriga atualmente 74,2 mil microempreendedores Individuais (MEI) de diversas nacionalidades, sendo que 4% atuam no setor de alimentação fora do lar. Foto: Midjourney

Para muitos estrangeiros, o empreendedorismo gastronômico tornou-se mais do que uma simples fonte de renda; é uma ponte para uma nova vida e uma nova identidade em terras estrangeiras. Segundo dados recentes do Sebrae, o Brasil abriga atualmente 74,2 mil Microempreendedores Individuais (MEI)de diversas nacionalidades, sendo que 4% atuam no setor de alimentação fora do lar.

Para a presidente do Conselho de Administração da Abrasel, Rosane Oliveira, o setor de alimentação fora do lar funciona como um catalisador de diversidade e inclusão ao abraçar estrangeiros que desejam empreender.

“Ao abrir as portas para empreendedores de diversas origens, o setor enriquece sua oferta gastronômica, além de promover uma cultura de inclusão e aceitação, que é essencial para o desenvolvimento de comunidades conectadas” , afirma Rosane.

“Aqui é crucial enfatizar o compromisso da Abrasel em simplificar a jornada do empreendedor, visando tornar a experiência dos estrangeiros a mais acolhedora e acessível possível”, reforça a presidente.

Novos começos

Myria Tokmaji e Billal Azizi são testemunhas desse fenômeno. Refugiados das guerras do Oriente Médio, os empreendedores encontraram no Brasil a possibilidade de recomeço através da gastronomia. A família de Myria, por exemplo, se mudou de Alepo, na Síria, país assolado por conflitos civis, para o Brasil. Foi em Curitiba (PR) que eles encontraram não apenas um refúgio, mas também uma oportunidade para um recomeço.

No total, 17 membros da família de Myria vieram para o país em 2013. Ela relembra que, naquela época, deixaram tudo para trás em busca de uma nova vida. De início, a família enfrentou desafios em solos brasileiros.

“Logo percebemos que estávamos enfrentando novos desafios: a integração ao mercado de trabalho, a aprendizagem do idioma e a construção de novas amizades. Cada aspecto do dia a dia se transformou em um grande desafio, cada detalhe apresentava uma nova dificuldade a ser superada” conta Myria.

Após quase um ano lutando para sobreviver financeiramente no Brasil, Zuka Khouri, mãe de Myria, iniciou, timidamente, a venda de esfirras para a vizinhança e em feiras, empreendendo um pequeno negócio. Assim, nasceu Yasmin Comida Árabe.

“Era uma verdadeira missão encontrar feiras e eventos onde minha mãe pudesse trabalhar, e nós, como família, nos uníamos nos finais de semana para apoiá-la. Meu irmão, minha cunhada, meu pai - todos nós íamos juntos com ela para as feiras. Os primeiros anos no Brasil não foram fáceis ", relembra a empreendedora.

Apesar dos desafios iniciais, a família persistiu no empreendimento. O gosto dos brasileiros pela comida árabe começou a influenciar os negócios de Myria e Zuka. As empreendedoras começaram a servir comidas típicas de Alepo em festas, jantares e cafés. O negócio foi tomando forma e conquistando os clientes. Atualmente, com o empreendimento consolidado, pratos como esfirras, bolinhos de falafel, kibe e kafta fazem parte do cardápio variado de entregas feitas pela Yasmin Comida Árabe.

“A gastronomia desempenhou um papel crucial em nossa jornada de adaptação e recomeço, especialmente considerando nossa dificuldade com o idioma. A culinária nos sustenta e serve como uma ponte para nos conectarmos com a cultura brasileira” reforça Myria.

Para a família, o empreendedorismo gastronômico foi essencial para o recomeço em um novo país. Além de proporcionar uma fonte de renda, a Yasmin Comida Árabe tornou-se um elo cultural entre a tradição síria e a comunidade local.

A história de Myria se assemelha a de Billal Azizi. Em entrevista para o Estado de Minas, o afegão conta que chegou no Brasil apenas há oito meses, ao fugir do Afeganistão, após o país ser tomado pelo grupo terrorista Talibã. Já em Belo Horizonte, capital mineira, Billal e sua família começaram a vender comida afegã, por meio de delivery.

Inicialmente, ele chegou no Brasil apenas com sua mãe e a esposa, mas, a vinda de Billal ao país despertou o interesse de demais familiares em reconstruírem sua vida em outro lugar. Agora, já são oito parentes que deixaram as terras afegãs e moram na capital mineira.

Billal Azizi relata que chegou ao Brasil com um visto humanitário, válido por 180 dias, após a queda do governo afegão e a ascensão do Talibã. Com a expiração do visto, a família teve aproximadamente 90 dias para se apresentar à Polícia Federal e finalizar o registro da solicitação de refúgio ou residência humanitária.

No Afeganistão, o empreendedor trabalhava com venda de carros, além de ser ativista político. Já no Brasil, Billal Azizi viu na gastronomia a chance de reerguer financeiramente. Junto da mãe e da esposa, o afegão abriu a Cozinha do Azizi, em fevereiro de 2024. O cardápio de Azizi, conta com pratos típicos da culinária persa afegã, como o sanduíche falafel, samosa – um pastel recheado com carne e vegetais – e kabab sina morgh, que é um espetinho de carne grelhado.

Em entrevista ao Estado de Minas, Azizic compartilhou que a motivação primordial por trás da abertura de um novo empreendimento foi não apenas prover sustento para sua família, mas também preservar sua identidade e construir uma nova história em terras brasileiras.

Azizic e sua família unem suas ideias e colaboram em todas as etapas, desde o preparo dos pratos até a gestão dos estabelecimentos. Agora, o plano deles é inaugurar um espaço para receber os clientes pessoalmente. Ele enfatiza o desejo de compartilhar a hospitalidade e a generosidade que trouxe consigo do Afeganistão.

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