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Mesmo com um alto índice de desemprego no Brasil, os bares e restaurantes ainda sofrem para contratar profissionais

Pizzaiolos, sushimen, maitres, someliers, gerentes de fila, recepcionistas bilíngues, supervisores e gestores de uma maneira geral são raridades e disputados ferozmente no mercado hoje. Foto: Freepik

Basta juntar dois ou três donos de bar ou restaurante e aguardar poucos minutos que a conversa começa: Está cada vez mais difícil contratar! Se por um lado temos um número ainda expressivo de desempregados no país – quase dez milhões, o melhor desde 2015 - por outro há vagas que não conseguem ser preenchidas por falta de perfis adequados

Mesmo sendo a maior porta de entrada de gente sem qualificação no mercado, tendo uma capacidade ímpar de receber gente sem escolarização ou qualquer treinamento e promovendo uma gigante mobilidade dentro das empresas, os bares e restaurantes penam para contratar gente especializada. Pizzaiolos, sushimen, maitres, someliers, gerentes de fila, recepcionistas bilíngues, supervisores e gestores de uma maneira geral são raridades e disputados ferozmente no mercado hoje.

Essa é a visão dos empreendedores do setor de Alimentação Fora do Lar. Entre os trabalhadores brasileiros se vê o problema de forma bem distinta. A compreensão corrente é que o setor, que já remunerou melhor há 30 ou 40 anos, hoje não é considerado atrativo, paga-se pouco, o que desestimula o interesse de quem é melhor qualificado e tem uma experiência sólida.

A pandemia ensinou muita gente a transformar alguma aptidão ou hobby em renda. O custo de deslocamento, alimentação e vestimenta para o trabalho presencial é medido hoje por gente que aposta suas fichas numa renda mais baixa sem custos adicionais. Além de garantir um outro tipo de economia: creches, cuidadores de idosos, faxineiras e lavanderia.

Há também, nas camadas mais baixas, os que poderiam entrar no mercado e brigar por qualificação, que estão preferindo viver com as ajudas governamentais, os bolsas-família e similares.

Já ouvi relatos de empresários que ao participar de festivais gastronômicos em cidades pequenas do interior ouvirem recusas de ofertas de trabalho quase como se fosse uma ofensa. Não é mais bacana trabalhar, coisa de gente que não tem sequer condição de ser inserido em um programa social, um pai, avô, ou parente que garanta o sustento da família.

Um dado estarrecedor surgiu agora pouco antes de ano encerrar. Quase 95% dos 1.794 municípios do Nordeste brasileiro têm mais beneficiários do antigo Auxílio Brasil do que gente com emprego formal e carteira assinada. Na região Norte o índice é de 83,5%.

Há inúmeras instituições que há décadas se voltam pra qualificação profissional. As federações empresariais têm seus serviços de aprendizagem, o Sebrae taí. Há programas públicos também. Mas será que são suficientes para efetivamente atacarem o problema?

A Abrasel fala e investe já há bom tempo na qualificação e produtividade. Temos certeza que só com aumento de produtividade conseguiremos desafogar as empresas e promover melhorias na condição salarial atual.

Claro que há outros entraves, como os impostos e taxas que sufocam as empresas, mesmo as beneficiárias do Simples, mas o setor que é o maior empregador do País precisa de mais. A criação de uma vaga em bares e restaurantes é infinitamente mais barata que na indústria, por exemplo.

E crescer, com a atual legislação, via de regra, é quase decretar sua extinção. Daí os malabarismos fiscais e outras artimanhas a que se recorre para sobreviver. O tempo e a energia gastas com isso é retirado da boa gestão, consome a criatividade e torna o foco do empreender nebuloso.

Temos agora uma nova gestão no Brasil. Declaradamente favorável ao trabalho e aos pequenos empreendimentos. É preciso inovar, melhorar o ambiente dos negócios. Não é à toa que nossa associação tem como atual lema que um País melhor de empreender é um País melhor de se viver. Mais do mesmo não basta!

*Max Fonseca é jornalista, empresário no setor de bares e restaurante e conselheiro nacional da Abrasel

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